Orange deve a sua notoriedade a dois monumentos classificados como patrimônio mundial pela UNESCO: o arco comemorativo e o teatro antigo, que ainda recebe todos os anos os espetáculos de ópera Chorégies.
O nosso passeio pela cidade começa justamente pelo primeiro monumento romano, lembrança da cidade erguida em 35 A.C. que recebeu os veteranos da II Legião.
Seguindo critérios precisos de distribuição dos terrenos e do crescimento da cidade, Orange foi próspera até 412 quando foi atacada pelo Wisigodos. Terminado esse período conturbado, a cidade cai nas graças de Raymond d’Orange, príncipe holandês do século XII. Depois de sobreviver às Guerras de Religião, Orange foi alvo de mais uma destruição.
Com a melhor das intenções, Maurício de Nassau (conhece?), apaixonado pela construção de fortificações cerca a cidade com uma muralha e um castelo. Infelizmente para isso ele usou as pedras dos monumentos romanos que os bárbaros não tinham conseguido colocar abaixo. O arco e o teatro escaparam milagrosamente.
Mais um pouquinho de história?
Quando Louis XIV entra em guerra contra a Holanda, a cidade é invadida e tem a famosa muralha e o castelo destruídos. Orange faz parte definitivamente da França em 1713 de acordo com o tratado de Utrecht.
Ufa! Hora de fechar o guia Michelin e colocar a câmera em punho para observar o que o tempo e os homens não conseguiram aneantir. Deixamos o carro no estacionamento gratuito perto do arco e descemos para a primeira sessão de fotos. O arco que fica na entrada norte da via Agrippa que ligava Lyon à Arles. Com 19,21m de altura, 19,57m de largura e 8,40m de largura, ele é o terceiro maior arco romano que resta na França e um dos mais bem conservados. A face norte, particularmente, guarda boa parte da decoração original: clássico romano e arte helenística. Construído em cerca de 20 A.C. e dedicado mais tarde à Tibério, ele celebrava as vitorias dos veteranos da II Legião (lembra?).
Deixando o arco, partimos pelas ruas estreitas do centro em direção do teatro. Construído no reino de Augusto (Octavius), ele é o único teatro romano do mundo que conservou o muro do palco praticamente intacto. A visão é impressionante. O muro de 103m de largura e 36m de altura que Louis XIV considerou “a mais bela muralha do reino” me faz sentar por algum momento. Ouvindo as explicações do audio-guia, observo os detalhes do trabalho remarcável desse povo talentuoso e agradeço por que uma obra como essa possa ter resistido a tantas coisas para chegar aos nossos dias. Ao meu lado, podem se sentar sete mil pessoas, que todos os anos assistem maravilhadas as Chorégies. Recentemente o muro do palco foi protegido por uma placa em vidro de 200 toneladas, mas uma das curiosidades mais interessantes do teatro fica no centro do palco: uma estátua do imperador que tem a cabeça móvel, uma senhora vantagem em tempos, vamos dizer, instáveis. Mais uma boa meia hora passeando pelo espaço, uma pequena pausa na lojinha – quem resiste? – e vamos para o centro novo (?!).
Pegamos a rua Caristie para ir até a Rue de la République, avenida principal da cidade. Entramos à esquerda para ir até a Place de la République, onde Raymond d’Orange nos deseja as boas-vindas e continuamos até a antiga catedral de Notre-Dame. De origem romana, a igreja foi muito mal-tratada e reconstruída em parte depois das Guerras de Religião.
Continuamos o passeio, agora sem grandes pretensões: andar de uma rua a outra, entrar nas lojinhas e tomar um merecido e delicioso café fazendo uma prece discreta para que as próximas gerações tenham o mesmo privilégio.
Fotos: Naprovence e J. Clementino.