Tente visualizar a cena: em um jantar com amigos alguém fala de um garde-côte e na maior inocência você pergunta “guarda-costas de quem?” O problema é que garde-côte em francês não tem o mesmo significado que em português e você percebe isso pelos colegas que tentam segurar o riso, e não conseguem, é claro. Garde-côte é um funcionário do porto que ajuda os navios atracarem, ou seja, nada a ver com o “nosso” guarda-costas.
Aiiii, um buraco, aliás, buracos! Gafes como essa foram muitas nesses anos vivendo na França. E olha que ainda no Brasil decidi não fazer tão feio, por isso freqüentei as aulas da Aliança Francesa de Brasília por cerca de seis meses e um mês antes de embarcar contratei a professora do curso para um intensivo em casa.
Cheguei na França pensando que estava podendo, mas na realidade não podia nada: comprar pão, conversar com o médico, ir ao cinema (todos os filmes são dublados!), nem ler as placas. Livro? Só se fosse para olhar as ilustrações. Para ser bem honesta comecei com as revistas em quadrinhos e mesmo assim ainda precisava do dicionário.
Antes que a depressão tomasse conta me matriculei no Institut d’Études Françaises pour Etudiants Etrangers em Aix-en-Provence. Muito bem localizado, o instituto fica no centro da cidade em frente à catedral Saint-Sauveur. Primeira etapa: um teste de nível. São cinco, entrei no segundo (elémentaire).
Comemoração em casa, pelo menos não comecei do zero. Ledo engano. Depois da primeira aula achei que o teste não foi justo, podia mesmo ter começado…do começo! No programa: história, cultura e costumes da Provence, pronúncia e dicção (h-i-l-a-r-i-a-n-t-e), imprensa francesa, literatura e ortografia. Aqui entre nos tinha a impressão de que estava aprendendo chinês. Aliás, chineses não faltavam entre os colegas de classe. Americanos, dinamarqueses, tailandeses também não, jovens do mundo inteiro que vieram curtir o sol do Méditerrâneo.
A escola é tradicional com aulas todos os dias pela manh e à tarde e os professores não estão para brincadeira, mas nos tratam como crianças. Consegui um pouco mais de respeito quando anunciei que estava grávida. As aulas ficaram prejudicadas pelos enjôos e pelo sono, mas consegui terminar o ano (Chloé nasceu nas férias de agosto!) e obter o meu certificado. O diploma não foi possível porque o meu francês escrito continuava sofrível.
Em seguida, com o tal certificado, meu diploma brasileiro em jornalismo e muita coragem encarei uma prova de títulos para fazer um mestrado. Com o meu francês ainda macarrônico entrei na IEP – Institut d’Etudes Politiques – antiga faculdade de Direito onde Paul Cézanne estudou – para fazer um Master II (o equivalente ao nosso mestrado, cerca de 400 o ano, isso em 2004).
Passei um ano a sofrer o martírio com os exercícios escritos, as aulas intermináveis com o professor sentado em cima da mesa a falar sem parar (nem uma apostila para ajudar) e o rapport de stage (um documento com um mínimo de cinquenta páginas para convencer o diretor do curso que você aproveitou alguma coisa do que foi dito). Sem falar da banca de jurados para a última prova oral. Um ano e três estágios depois, vitória! Diploma com menção très bien em comunicação institucional internacional.
No terceiro ano entrei na ADREP uma associação que promove cursos profissionalizantes para jovens e de francês para estrangeiros. Espanhóis, irlandeses, africanos, russos, europeus do leste, gente que veio se estabelecer por aqui, como eu. O curso é gratuito, mas você vai precisar de um ou vários ônibus para chegar no local das aulas (é longe do centro). Outro problema: as salas são muito heterogêneas e o nivel é bem, bem, bem básico (bom para quem acabou de chegar).
Todos os cursos me ajudaram muito a melhorar a base da língua e a fazer amigos, mas foi no dia a dia com a família e principalmente no trabalho que meu francês se aperfeiçou. Os escorregões acontecem com menos freqüência, mas ainda tenho dificuldade com os fonemas que não existem em português.
Como você pôde ver aprender o francês não foi simples. Por isso, se você pensa em cursar alguma coisa por aqui comece a estudar, e muito, antes de comprar a passagem ou a decepção pode ser grande, a não ser que tenha tempo suficiente para ter um bebê, casar, arrumar um emprego ou simplesmente passar um ano delicioso no sul da França!
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14 Replies to “Aprendendo o francês na marra! Onde estudar em Aix-en-Provence?”
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