Um casamento na Provence: detalhes de uma celebração

Quando receber um convite de casamento na Provence cancele todos os outros programas porque você vai precisar de todo o dia livre.

As cerimônias começam obrigatoriamente na Salle de Mariage de uma prefeitura, no caso de Vanessa e Damien, às duas da tarde na Mairie de Aix-en-Provence onde, em média, são realizados oito casamentos todos os sábados da primavera, do verão e do começo do outono.

Este momento é meio pitoresco: os convidados esperam na praça do lado de fora a vez de entrar e enquanto isso as noivas viram atração turística. As cerimônias duram cerca de 20 minutos e em seguida pode ou não acontecer uma celebração religiosa.

Vanessa e Damien escolheram a primeira opção e de carro seguiram para a catedral Saint–Sauver. Construída em vários períodos e recheada de obras de arte é uma das mais bonitas igrejas da cidade. A missa de uma hora contou com um organista talentoso e um padre inspirado. A emoção continuou do lado de fora com a chuva de corações feitos em papel vermelho e branco. As cores que davam o tom da cerimônia estavam presentes no convite que chegou dois meses antes.

Pausa às dezesseis horas. Enquanto os noivos seguem para o parque Saint-Mitre para fazer a tradicional seqüência de fotos os convidados ficam à sua sorte. Ou seja, depois de duvidar entre passear pela cidade ou comprar a tinta para pintar a parede da cozinha de vestido dourado e salto alto achei melhor voltarmos para casa para fazer um lanche, descansar e trocar de roupa (com o mistral soprando forte só saio com um bom casaco).

Nos preparamos e partimos para Joucques. Depois de um trajeto de vinte minutos chegamos ao local da recepção: a surpreendente capela de Saint-Bacchi do século IX que depois de um drástico reloking se transformou em salão de festa. Enquanto os noivos se “divertem” em mais uma sessão de fotos desta vez com a família, amigos e convidados aproveito para explicar um detalhe interessante dos casamentos na França.

Fazer uma festa por aqui custa caro e convidar mais de cem pessoas é uma raríssima exceção. Para você ter uma idéia no meu casamento o jantar custou 70 euros por pessoa, deixo você fazer a conversão para os reais. A solução que os franceses encontraram para resolver o problema é engenhosa e muito mais econômica. Para não deixar de fora os amigos do trabalho, os conhecidos, os vizinhos, os amigos dos pais que lhe conheceram de fraldas, é realizado um coquetel onde normalmente são servidos frios e obviamente o vinho. Ninguém senta e somos nós mesmos que nos servimos no buffet. Simples e eficiente.

Depois do vin d’honneur é servido o jantar para a família e os amigos mais íntimos com tudo que o nobre convidado tem direito. Mas quando os dois são realizados no mesmo local a armadilha esta montada: só entramos no salão para começar a festa quando os convidados do coquetel forem embora.

Voltando ao casamento da Vanessa e do Damien às dez da noite ainda estávamos esperando do lado de fora da capela e só restava um assunto: o vento gelado que soprava forte nos deixando ainda mais impacientes. Finalmente entramos na sala. Podemos dizer que a restauração da capela foi bem sucedida: espaço para as crianças com sofa e tv, banheiros modernos e um cuidado especial com os afrescos. O tema escolhido foi genial: os beijos famosos do cinema e da fotografia. Um porta-retrato com um desses beijos, uma vela onde estava gravado o menu e uma garrafa de vinho rosé feita na propriedade faziam parte da decoração das mesas. Nas cadeiras, uma rosa vermelha amarrada com um laço branco ficou um charme e um cantinho foi decorado com capricho para instalar o livro de assinatura dos convidados, uma caixa onde depositamos os envelopes com dinheiro (mais habituais que os presentes) e as lembrancinhas. Tudo em vermelho e branco e com o mesmo detalhe do convite: duas peças de quebra-cabeças unidas.

Nos esquentamos na pista de dança por alguns minutos e nos instalamos para aguardar o jantar: magret de canard au miel et à lavande et son assortiment de legumes, traduzindo, bife com molho de mel e lavanda com legumes. Claro que em francês isso soa bem mais chique e apetitoso, mas a quantidade também era francesa e Nicolas ficou aguardando a seqüência. A continuação foi um assiete de mesclum et son duo de fromage, ou seja, salada de alface com duas fatias de queijo e um buffet de sobremesas e frutas da estação, tudo isso regado a muito vinho. A festa ainda estava animada quando fomos embora às duas e meia da manhã.

Os noivos ficaram em uma suíte instalada no local. Com certeza o melhor presente de casamento depois de um dia extraordinário em todos os sentidos.

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