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Cerveja e história em um passeio por Bruges, na Bélgica

Bebida e viagens precisam ser bem dosados para evitar problemas – inclusive com a lei – e render um bom resultado se tornando uma aula de história passando pelo objetivo não menos importante de ser fonte de prazer. Um defensor do vinho, das mais nobres representantes das bebidas que misturam o prazer único de associar contextos químicos, geográficos, históricos e sensoriais, torceu o nariz quando fiz menção à cerveja. A sua imagem de bebida de massa e as loiras curvilíneas usadas na publicidade se associam à pouca oferta em termos de sabor do mercado brasileiro. Uma injustiça considerando os citados contextos químicos, geográficos, históricos e sensoriais. Isso pode ser comprovado da forma mais estimulante possível: empreendendo uma viagem à Bélgica. “Graças a Deus” aqui não é uma expressão retórica, pois nesse país encravado bem no centro da Europa ocidental a arte de fazer cerveja alcançou níveis divinos por causa do trabalho de diversas abadias que há séculos motivam os monges a descobrir os segredos de se fazer uma boa cerveja em um verdadeiro paraíso de sabores e texturas.

Há muitas opções de visitas à regiões produtoras onde os mosteiros de hoje preservam técnicas artesanais seculares associadas ao que há de mais moderno em termos de tecnologia de produção, mas gostaria aqui de fazer referência a uma localidade onde esta bebida – que nos tempos antigos era consumida como questão de sobrevivência em muitas regiões, já que beber água pura podia ser um risco fatal – é apenas uma atração a mais: a cidade de Bruges. Brugge para os belgas de origem flamenga, Brujas para os espanhóis. Faz quatro anos que visito esse lugar que me parece uma espécie de Disney World para adultos que gostam de parques temáticos. Seu centro histórico parece exatamente um parque de Orlando, com suas casas medievais e edifícios preservados, seu calçamento impecável e as lojas mais charmosas de toda aquela parte do continente. Em comum a todas as agradáveis visitas o fato de que sempre descubro uma nova surpresa.

Desta vez ao passar perto de uma porta, ou melhor, um portal destes de filmes como “Excalibur”, vi pessoas saindo com sacolas de compras e um certo ar de relaxamento e felicidade que me pareceu familiar. Uma moça de cabelos pretos, bem vestida e falando inglês com sotaque americano, acompanhada de outro senhor igualmente alegre, percebeu meu interesse pelo movimento e sentenciou: “Go inside e you will find good beer”, com ênfase especial no “good”. Entrei e conheci a “2 BE”. O nome, de cara, é uma referência curiosa, pois pode ser interpretado, para os estrangeiros como o famoso verbo “ser, estar” que aprendemos nas primeiras aulinhas de inglês, até uma analogia a BE, sigla da Bélgica, onde se situa a cidade e a que o estabelecimento não se faz de rogado em homenagear. A decoração é com obras de artistas nacionais. A música sempre da variada cena musical belga, com direito a um coral de meninos cantando “Viva la Vida” do Cold Play, reforçando a referência às abadias que a esta altura já fazem parte da cultura do país, com um toque pós-moderno. Os produtos, claro, são belgas. Piéce de resistance: cerveja (belga). Em termos de mercado a variedade de produto chega a ser covardia. A “Beer Wall” recebe quem chega ao bar, um pouco depois da loja (sobre esta falamos depois): uma parede mostra ao visitante novato 100 das 780 variedades de cerveja daquela nacionalidade. Vou repetir: cem das setecentas e oitenta cervejas diferentes, só entre as produzidas nas fronteiras da Bélgica, um país do tamanho de Alagoas. Pobre Brasil… (Claro, se você é de Ribeirão Preto, no interior de São Paulo, já deve estar me xingando, pois lá encontramos uma variedade interessante. Mas, convenhamos…). Infelizmente nem todas estão disponíveis ao consumidor no local: “apenas” 20 são servidas em garrafas e sete pelo sistema de pressão. O suficiente para um coma alcoólico, que não é o objetivo de todo viajante de bom senso. De qualquer forma na citada loja a oferta é de trezentas cervejas diferentes (calma, já falamos disso).

A verdadeira festa de degustação pode ser feita em uma mesa de vidro que dá uma janela com vista para um dos canais de Bruges (muito comumente chamada de “Veneza Belga”) ou uma das mesas com aquecedor de chama viva isolada por vidro, na parte de fora para os que preferem a bebida à temperatura ambiente de zero grau nesta época do ano. Sem saber por onde começar, recebi a sugestão de tomar a Bush Noel, uma cerveja mais escura e suave, que levei para a mesa com uma Brugse Zat, um pouco mais clara, na verdade a que deve ser tomada antes, começando pela mais leve (a branca ou “loura”) passando depois para as mais escuras. Surpresa que não é para todos é a Mongozo, com sabor de côco. Isso mesmo. Fiquei apreensivo inclusive ao ser avisado que ela é suavemente adocicada, fazendo prever um pesadelo do que os europeus pensam ser algo exótico destas paragens. Mas ela se revelou suave e agradável (talvez não uma unanimidade, mas sempre uma experiência). Um pouco exótica mesmo, aspecto reforçado por ser servida em uma espécie de cabaça em forma de côco. Já a Gordon Finest tem endereço certo: é uma cerveja escura e forte, agradável a paladares acostumados com a variação possível da manipulação do lúpulo. E fui parando por aí pois ainda tinha uma viagem pela frente. Ah sim! A loja…Trezentos produtos belgas, começando pelas cervejas, incluindo as disponíveis no bar (entre elas a “Deus”, uma cerveja flamenga considerada uma das melhores do mundo, que na Avenida Paulista pode ser encontrada a inacreditáveis R$ 290,00 e aqui estava a 17 euros (e estava caro!…). Ainda tem: chocolates (belgas, é obvio), geléias, petiscos, presentes e um monte de outras coisas que deixam a vida mais doce. E uma delas merece atenção especial: o avocaat. Uma espécie de creme de ovos que  na verdade é um licor que deve ser saboreado com uma colher. O que confirma o ditado conhecido dos bons bebedores de plantão: “bebo por que é líquido; se fosse sólido eu comia!”.

Texto Carlos Eduardo Cunha, amigo e jornalista de férias pela Europa.

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2 Replies to “Cerveja e história em um passeio por Bruges, na Bélgica”

Cinthia Rangel
29 janeiro 2011
Meu marido ia amar esse lugar! rssr
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