Estrada, mesa e relações interpessoais: diferenças entre o Brasil e a França

Na estrada:

  • os caminhões não têm frases engraçadas e ditados nas carrocerias, o que faz as viagens ficarem mais sem graça. A compensação são os pomares de pessegueiros e macieiras floridas dos dois lados de cada margem e o dourado das plantas em uma paisagem que fica ainda melhor no outono,
  • os buracos nas ruas são raros (muito raros mesmo) e quando eles aparecem são consertados imediatamente,
  • a manutenção excepcional das estradas e dos lugares onde podemos parar, comer e ir ao banheiro sem correr o risco de pegar uma doença também merecia ser copiada pelo governo e empresários brasileiros,
  • a possibilidade de viajar de carro para a Itália e a Espanha em apenas quatro horas sem o menor risco de se perder por que a sinalização, sempre feita com placas que têm o mesmo padrão, é eficiente.
  • as estradas nacionais, ou internas na Provença, são mais longas, mas infinitamente mais bonitas.

Na mesa:

  • o francês respeita as refeições que devem ser saboreadas com tempo e calma, em horários precisos,
  • o vinho é sagrado principalmente entre as velhas gerações e acompanha os pratos em quase todas as mesas  no almoço e no jantar,
  • ninguém, mas ninguém mesmo come bebendo suco de fruta ou refrigerantes,
  • a melhor maneira de comer em um restaurante é pedir a fórmula “menu” : prato + entrada ou prato + sobremesa,
  • a garrafa de água é oferta da casa e todos os restaurantes franceses servem uma, mas atenção se pedir uma garrafa especial (de marca) ela vai ser cobrada,
  • o que é servido tem o gosto e o cheiro dos legumes e frutas da estação,
  • a quantidade “riquiqui” (mais do que suficiente para mim) famosa dos restaurantes gastronômicos não tem nada a ver com os pratos servidos nos restaurantes de cozinha tradicional provençal que são bem caprichados,
  • restaurantes self-service normalmente vendem comida estrangeira, francês não gosta desse tipo de serviço, e pronto,
  • a gorjeta não é obrigatória, você só paga – um euro em bares e restaurantes, por exemplo – se realmente gostou do serviço.

Nas relações interpessoais:

  • a sociedade francesa é muito mais formal do que a brasileira, chamamos todo mundo de senhor e senhora,
  • para chamar alguém de você é necessário perguntar antes se a pessoa a está de acordo.
  • até nos mails usamos fórmulas de educação extremamente elaboradas,
  • os atrasos são raros,
  • quando alguém diz que “liga tal hora” ele liga mesmo e se ele marcou às 10h15 ele vai chegar no horário combinado,
  • festas e eventos – até um simples churrasco em casa com os amigos – deve ser marcado com vários dias de antecedência,
  • francês não gosta de imprevistos, de visitas que aparecem sem avisar, de ligações no meio do almoço ou jantar e muito menos de ser interrompido.

Aqui faço uma pequena pausa.

Quando cheguei na França achava tudo isso muito chato como todo brasileiro habituado a ter um batalhão de vendedores em qualquer loja, gente para encher o tanque, comer um sanduíche vendo televisão, esquecer de ligar mesmo se tinha combinado, etc.

Com o tempo fui mudando de idéia em relação a muita coisa e hoje acho, sim, que educação e gentileza não podem ser confundidos com a maneira do brasileiro fazer “amigos de infância”, prometer mundos e fundos no domingo à tarde e esquecer completamente o compromisso que assumiu na segunda de manhã, ou ainda de não responder aos mails que recebeu ou entrar em contato apenas quando precisa de alguma coisa.

Evidentemente não dá para generalizar.

Conheci e conheço muitos brasileiros extremamente gentis e bem-educados e franceses que dão medo de tão grossos, mas o que aprendi com esse jeitão esquisito é que a grande maioria dos franceses sabe dizer não e impor limites com uma enorme elegância. E hoje os respeito muito por isso. Pelo menos assim você sabe o que esperar deles.

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One Reply to “Estrada, mesa e relações interpessoais: diferenças entre o Brasil e a França”

Natália
31 janeiro 2012
Antes de ir à França, ouvia dizer que eles eram arrogantes e mal educados lá. Acho que isso tem muito a ver com o choque cultural que o brasileiro sofre. Somos educados para ser mais simpáticos que verdadeiros. Não sei se um jeito é melhor que o outro, mas o fato é que, em Paris, só encontrei pessoas super solícitas e dispostas a ajudar.
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